Pela primeira vez, uma participação especial no blog. Eis a opinião de Êgon Bonfim sobre as atitudes tomadas pelo Viva nestes últimos tempos.
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"Peço licença aos seguidores deste
blog para que eu possa expressar os meus sentimentos de acordo com o perfil de
público que acompanha as postagens do Tevê
With Lasers. Pois bem, como o autor deste blog é um notável "nostalgista"
assumido e eu tenho um gosto bem apurado pela história da TV brasileira (adoro
pesquisar tudo que é correlato a este fascinante veículo em acervos online),
ficamos decepcionados quando surgiram as críticas sobre o Canal Viva que estava
começando a "mutilar" as reprises de algumas novelas.
Quando surgiu em 2010, o Canal Viva veio como uma verdadeira
alternativa da TV por assinatura para que o público pudesse relembrar os
programas antigos da Globo,
principalmente novelas, a partir dos anos 80. Assim que eu o assisti pela
primeira vez, na casa do meu avô, foi amor à primeira vista. Pude ver, por
exemplo, capítulo de Vale Tudo e Top Model, um episódio de Armação Ilimitada e até o último
capítulo de Roque Santeiro. Assim que
pude ter uma TV por assinatura em 2012, o Viva passou a ser campeão de
audiência aqui em casa. Passei a ver Globo
de Ouro, Viva o Gordo, Cassino do Chacrinha, Chico City, TV Pirata, as novelas Mulheres
de Areia e Dancin' Days (minha
mãe chegou a ver Fera Radical e Pai Herói) e mais recentemente Os Trapalhões. Valia a pena até curtir
nos tapa-buracos da programação alguns quadros do Fantástico como Cilada, O Super Sincero e Papo Irado. Era também a oportunidade de a gente acompanhar direito
e de cabo a rabo minisséries "recentes" como JK, Dercy de Verdade, Dalva & Herivelto e Presença de Anita (ai, ai, esta duas
vezes).
A implicância dos telespectadores
tem fundamento e se deve ao fato do canal pago não explorar o acervo Global da
maneira mais coerente possível, até porque a proposta inicial do Viva era levar ao público a recordação
afetiva dos programas de antigamente, gerando aquela nostalgia saudável. Muita
gente gostaria de ver, por exemplo, a novela Guerra dos Sexos e eu por exemplo, tenho a curiosidade de assistir Selva de Pedra (a segunda versão, já que
a primeira esteve disponível em um box de DVDs da Globo Marcas). Porém, com a popularização desenfreada da TV por
assinatura e da inclusão digital (numa velocidade onde parece ninguém dar conta
disso), a ponto de smart-phones se
converterem em brinquedinhos de luxo, o Viva
parece ter se submetido ao "efeito camaleão" para massagear o ego de
uma turminha folgada que quer tudo de mão beijada, transformando-se num
autêntico "museu de grandes novidades" (obrigado Cazuza). O que era
para ser só saudade acabou virando "coisa nova saindo do forno" para
satisfazer um público que se recusa a crescer mentalmente, a ponto de
transformar em memes cenas históricas da teledramaturgia brasileira, levando o Viva a trair seu conceito inicial.
With Lasers falando aqui: 'Comemorar em junho uma novela que completa 30 anos em maio? Tá "serto", Viva' |
Fãs mais ortodoxos vêm reclamando
das notas "pega-trouxa" que circulam na internet como, recentemente,
que o Viva teria anunciado as
reprises de Roda de Fogo e Brega & Chique. Fiquei com um pé
atrás, pois modificações de última hora já tinham acontecido anteriormente. E
aconteceu. Foram substituídos pela segunda reprise de Vale Tudo e uma reprise inédita de A Indomada, para alegria da geração "pão com Nutella",
obcecada por hashtags, que tão anunciando por aí que "o cadeirudo vem
aí", "cuidado com o cadeirudo", etc. Agora, foi um sacrilégio a
reprise da novela Bebê a Bordo (a
ponto de não aproveitarem O Beco, dos
Paralamas do Sucesso, que era o tema de "assinatura" da novela porque
nas chamadas da época sempre tocava essa música, pois até hoje todo mundo
lembra da trama ao ouvir o antológico arranjo dos metais de O Beco) ter que passar por cortes e
edição à la Vale a Pena Ver de Novo,
mas na TV por assinatura, qualquer programa com qualquer restrição de idade
pode ser colocada ao ar em qualquer horário, mas na TV aberta depende do
"bom senso" (escasso, diga-se de passagem) dos diretores das
emissoras.
Como amante da televisão e
defensor da preservação de sua história, terei de aderir ao boicote ao Viva, infelizmente, com dor no coração.
Até me "desinscrevi" em seu canal oficial no YouTube. Gosto muito do Viva,
mas se as coisas continuarem assim como estão, desde essa mudança no visual
gráfico (lembrando uma embalagem do sabão em pó homônimo dos anos 60), o
boicote tende a virar divórcio na próxima década. Um canal de TV não pode
continuar dando pilha a um fã-clube mimado e que o leva a trair seus ideais. Já
basta a exibição da Nova Escolinha do
Professor Raimundo transmitir em tempo real as "twittadas" do
público. Nostalgia não pode se converter em "Festival Digital do
Ridículo".
Enquanto isso, ainda não surgiu
um concorrente a altura nesse segmento. O mais próximo de conseguir a façanha de
"quebrar monopólio" é o SBT.
Se renegociar o acordo com a Televisa
e trazer de volta ao Brasil o canal pago TLN
mesclando seu conteúdo histórico e mexicano (obedecendo as normas da Ancine), vai ser um sucesso absoluto,
até porque como o SBT é integrante daquela firma chamada Simba, que exige pagamento do sinal das redes abertas integrantes
pelas operadoras, mediante a adoção de formatos digitais, essa dor de cabeça
seria amenizada. Mas por outro lado, o bedelho das filhotinhas do Abravanel
seria levado em conta na escolha dos conteúdos nacionais como somente programa
de auditório do Silvio e da Hebe, humorísticos com Golias e "Seu
Cazalbér", os infantis com Bozo e Mara e olhe lá, deixando para escanteio
algumas boas novelas e outros bons programas produzidos ao longos dos anos
(pois o arquivo do SBT é excelente em matéria de "mofo", mas ainda
existe aquela birra pelos "traidores", vide Gugu Liberato e Chaves,
que erroneamente irá para o ar em breve no "rival" Multishow). E não tá adiantando nada a
propaganda de graça que seu proprietário vem fazendo do Netflix toda semana (falando nisso, os serviços on-demand do Grupo Globo foram as melhores coisas que
surgiram na internet para permitir a democratização da forma de como a gente vê
um programa de TV), pois seu público tem ainda mentalidade dos anos 90 alegando
que TV a cabo é caro demais e que isso representa uma "ameaça" para o
SBT perder sua "posição de vice-líder", preferindo aplaudir de pé
esse Quem Não Viu, Vai Ver, uma
autêntica piece-de-resistànce da
anti-digitalização da TV brasileira. E como se o Programa Silvio Santos continuasse até hoje sendo exibido em
preto-e-branco.
Infelizmente num país como o
nosso, a nostalgia tem suas cruéis e traumáticas consequências, abrindo esses
precedentes que acabei de citar, satisfazendo fã-clubes e interesses de
bastidores. Mas ainda bem que existe o YouTube
que democratizou a forma de assistir vídeos na internet como também permitiu o
acesso do grande público a memória da televisão, mesmo que seja um prosaico intervalo
comercial, uma verdadeira aula prática às novas gerações de como fazer uma TV
de verdade. Mas o portal ainda não reconheceu a nossa classe, permitindo essa
política cruel de perseguir canais por meio da violação de direitos autorais
seja numa música ou num trecho de imagem. Quem sabe se nós, YouTubers
segmentados, possamos iniciar uma campanha pelo reconhecimento do maior portal
de vídeos do mundo a nossa classe, dos resgatadores de conteúdo histórico da
TV, não só do Brasil, mas de várias partes do mundo também. Dessa forma, as
consequências da nostalgia não seriam assim tão terríveis e apocalípticas."
- Êgon Bonfim